Importaria que o Primeiro-Ministro fizesse algum esclarecimento conceptual sobre tal democratização, uma vez que o que se lhe conhece vai no sentido oposto a qualquer entendimento que se possa ter sobre essa palavra.
Ao explicar o que queria dizer, caiu em inevitáveis contradições:
- "Colocar as pessoas com as suas actividades, projectos e sonhos no centro da transformação do país" não joga com o desemprego, o encerramento de empresas, a falta de crédito, a fuga de diplomados ou a emigração, a venda das empresas estratégicas para o desenvolvimento;
- " O crescimento, a inovação social e a renovação da sociedade portuguesa vir de todas as pessoas e não só de quem tem acesso privilegiado ao poder ou de quem teve a boa fortuna de nascer na protecção do conforto económico" ainda é mais enigmático se bem que soe bem à primeira;
- As reformas - garantiu - nascerão de "baixo para cima" e "foram pensadas para fazer dos homens e das mulheres de todo o país os participantes activos..bla...bla, bla"...Isto é as reformas foram pensadas antes de pôr os portugueses a executá-las. Pensar nas coisas não é um mau princípio mas isto revela, à luz da experiência destes meses, que o que se pretende é pôr as pessoas a fazerem o que não querem;
- Ao justificar falar nesta quadra, Passos Coelho não se referiu aos cortes no subsídio de Natal, preferiu antes que os portugueses não deixassem de confiar no governo;
- Foi directo ao dizer que "temos de agilizar a concorrência", presumindo-se que isso queira dizer baixar salários para aumentar a "competitividade" das nossas exportações ou reduzir e encarecer a produção do país para que os produtos alemães e outros captem mais mercado interno, fazendo aumentar os nossos desequilíbrios e a dívida. Nem uma palavra sobre a grande distribuição que mantém reféns de preços baixos a lavoura, as pescas e outros sectores. Nem sobre os monopólios do campo das telecomunicações e energia. Nem sobre o negócio da água que prepara;
- Garantiu que vai "agilizar a regulação" não ficando claro se se está a referir a novas investidas contra salários, pensões e apoios sociais ou se está a pensar na desregulamentação provocada pelo poder económico e na falta de meios mais eficazes de regulamentação.